Marvel vs Capcom Infinite: a queda de uma franquia de sucesso

Gustavo Rodrigues
5 min readFeb 13, 2018

Marvel vs Capcom é uma das franquias de maior sucesso para os jogos de luta, mas que desde sua versão Infinite, o quarto game da franquia que chegou às lojas oficialmente em setembro de 2017, tem alcançado um insucesso alarmante. Enquanto as edições anteriores dos clássicos confrontos entre os personagens da empresa japonesa versus heróis e vilões dos quadrinhos eram sucesso de crítica e público, o título atual não agradou os fãs desde os previews da E3. Agora, MVCI alcançou o ponto mais triste de sua história: não fazer parte da EVO 2018, assim mostrando o quão irrelevante ele tornou-se para o cenário competitivo.

Este insucesso de Marvel vs Capcom Infinite tem vários fatores, ainda mais que desde a época de rumores sobre o título já havia sinais de descontentamento do público para o caminho que estava sendo tomado pelos desenvolvedores da empresa japonesa. O principal questionamento era com base na lista de personagens selecionáveis, já que os 30 lutadores iniciais eram em grande maioria os mesmos da edição anterior. Esta decisão ganhou um sinal alarmante porque sempre houve mudanças marcantes no roster, assim mostrando um desenvolvimento preguiçoso da Capcom, que já havia sido bastante criticada pelo Street Fighter V.

Roster dos 30 lutadores iniciais de Marvel vs Capcom Infinite

Invasão do Universo Cinematográfico da Marvel

Além de ter uma grande quantia de personagens selecionáveis do terceiro jogo da franquia, a ausência do universo mutante nos games foi uma das escolhas infelizes feita pela Capcom. Segundo entrevista do produtor Michael Evans para o GameSpot, a ideia era trabalhar com personagens da Marvel que são mais populares para os dias atuais, assim sugerindo que os X-Men não seriam tão importantes para o título e que o correto seria investir em nomes como Gamora, Capitã Marvel, Dormammu, etc. Ele ainda citou que os lutadores são apenas funções, logo você poderia fazer com o Nova as mesmas movimentações do Magneto, por exemplo.

Este direcionamento para o público mais jovem dos fighting games mostra uma falha de conhecimento com quem é o real consumidor da franquia, principalmente quando personagens como Wolverine, Magneto, Tempestade e até mesmo o Deadpool ficam fora da lista de selecionáveis. A nostalgia é um elemento importante, mas este sentimento não existe para lutadores como Rocket Raccoon, Spencer, Motoqueiro Fantasma, Frank West ou Thanos, por mais interessantes que eles possam ser individualmente.

O Titã Louco, por exemplo, está no game por causa da sua importância no Universo Cinematográfico da Marvel, já que ele é o principal vilão dos filmes do estúdio e terá ainda mais destaque em Guerra Infinita. O problema fica na forma que isto predomina partes importantes do game, como o modo História. Mesmo que este fator seja o menos relevante para o cenário competitivo do MVCI, foi a forma que o título ficou disponível no beta para o público testá-lo. Vale ressaltar que quem consome este estilo de produto, pouco se importa com a trama que a estória quer contar, mas divulgá-lo com gráficos abaixo do esperado e narrando a jornada dos heróis dos dois mundos versus a aliança dos vilões Ultron e Sigma só gerou incerteza se valeria a pena investir em algo que parecia tão falho, principalmente pelo retrospecto da Capcom com SFV.

A falta de melhorias efetivas pela Capcom

Enquanto o público reagia de uma péssima forma para os gráficos do jogo, principalmente em relação ao modo história, os desenvolvedores começaram a retocar alguns personagens, como Chun Li e Dante, que tiveram uma melhora bastante considerável com o lançamento oficial de Infinite. Entretanto, alguns lutadores continuaram feios, sendo o principal deles o Capitão América, cujo rosto é uma atrocidade para um game da atual geração de consoles.

Outra dificuldade que a Capcom trouxe ao último título da franquia é algo bastante comum para a empresa: DLCs de personagens. Entretanto, o problema aqui fica na exclusividade de precisar da grana real para adquirir os novos lutadores, sendo que o Street Fighter V possui seu fight money — mesmo que necessite de muitas horas de jogo do usuário. Precisar gastar uma grande quantia financeira por partes adicionais e necessárias para o cenário competitivo pode afastar público, principalmente se seu produto não tem sido muito bem visto e há boas opções na concorrência, como o Injustice 2.

Para quem é fã da franquia ou se envolve no cenário competitivo, o investimento nos personagens de DLC é inevitável, já que estes lutadores podem ser essenciais. O agravante é como a animação de um deles, como o Venom, é muito superior a praticamente todos os outros do game, assim mostrando que o título poderia ter sido atrasado em alguns meses e chegado às lojas muito melhor em vários sentidos.

Venom e Monster Hunter, dois DLCs da primeira e possivelmente única Season de MVCI

Efeito Dragon Ball FighterZ

Ao mesmo tempo que MVCI começou a ser pouco quisto pelo público, Dragon Ball FighterZ cresceu como um substituto para o game da Capcom, já que a parceria entre Bandai e Arc System Works havia resultado num produto repleto de nostalgia e com uma jogabilidade semelhante ao que mais se espera de um crossover entre os universos de Ryu e Wolve… Homem de Ferro.

Com o lançamento do game baseado no universo de Akira Toriyama, MVCI perdeu qualquer tipo de relevância que ainda poderia ter competitivamente ou para jogadores casuais, algo que reflete a grande quantia de pessoas transmitindo o game da Bandai e praticamente nenhuma live do produto da Capcom.

Não é por acaso que a EVO 2018 não deu espaço para Infinte entre os oito games que terão campeonato no evento, o que é um choque pelo nome que a franquia possui, mas totalmente coerente ao que o título atual merece, principalmente pela ineficiência da Capcom em dar sinais reais de que tentará manter o produto vivo ou se já desistiu de buscar uma salvação para ele.

Mesmo que seja divertido e tenha uma jogabilidade mais acessível aos novos jogadores, Marvel Vs Capcom Infinite encontrou o fracasso por culpa da própria empresa, que pouco se importou em trazer lutadores amados pelo público ao renovar a lista de personagens selecionáveis, fez o pior modo história dos fighting games da atualidade e ainda não demonstrou nenhum comprometimento para melhorar o produto com eficiência. Hoje, MVCI está em coma induzido enquanto quem ainda tem amor por ele espera por notícias positivas ou pelo anúncio de seu trágico fim.

--

--

Gustavo Rodrigues

Jornalista que se perde em devaneios sobre a vida e cultura pop