Crítica: Cavaleiro da Lua

Gustavo Rodrigues
3 min readMay 5, 2022

Cavaleiro da Lua chegou ao Disney+ com a possibilidade de explorar um personagem obscuro do Universo Marvel tendo um ator carismático e popular, Oscar Isaac, no papel principal. Entretanto, mesmo que consiga ser independente das amarras do MCU, muito bem controladas pelo Kevin Feige, a série tem dificuldade de criar uma história envolvente, apesar do potencial evidenciado durante os episódios.

Na trama, Steven Grant é um funcionário de Museu repleto de conhecimento histórico sobre os egípcios, entretanto os problemas de sono dificultam sua vida a ponto de tomar medidas emergenciais para tentar controlar suas atividades noturnas. Porém, a vida dele muda drasticamente quando entra em contato com Marc Spector e Khonshu, outra personalidade do protagonista e a divindade da Lua, respectivamente.

Apesar de todos os tropeços, Cavaleiro da Lua tem como grande acerto a escalação de dois atores do elenco: Oscar Isaac e May Calamawy. O ator guatemalteco entrega personalidades opostas com precisão para diferenciar quem está no comando daquele corpo — principalmente pelo carisma que o artista cria para Steven Grant. Mesmo com menos tempo de tela do que merecia, mas não sendo apenas um interesse amoroso dispensável, a atriz egípcia dá vida a inédita Layla para dividir a tela, ser bem desenvolvida e alcançar um status inesperado no decorrer dos episódios.

Com menos participação, mas entregando as vozes precisamente para seus papéis, F. Murray Abraham e Antonia Salib conseguem criar personalidade aos deuses Khonshu e Tawaret, respectivamente. Em compensação, o vilão Harrow, interpretado por Ethan Hawke, possui um arco desinteressante, assim deixando de lado o talento do ótimo ator — como o MCU já fez anteriormente com Mads Mikkelsen em Doutor Estranho.

Cavaleiro da Lua tem como aspecto mais interessante de sua história as várias personalidades dentro do protagonista e como ele lida com essa dificuldade, mas isso só é realçado quando o roteiro abre espaço para desenvolver a psique de Marc Spector/Steven Grant, assim como seu passado. Com isso, o texto ganha profundidade e Oscar Isaac consegue realmente brilhar, seja pelo carisma ou dramaticidade. Infelizmente, isso dura muito pouco e chega num momento que o telespectador já pode ter desistido da trama.

Direção de Figurino feito por Meghan Kasperlik

Com a ausência de substância para dar profundidade ao drama do protagonista, Cavaleiro da Lua não consegue se sustentar nas poucas cenas de ação bem editadas e coreografadas, seja em função da trama ou por questões técnicas. Em compensação, os efeitos visuais são competentes para dar vida aos deus egípcios e tornar o traje do herói bonito.

Cavaleiro da Lua mostra seu potencial quando abraça a insanidade, deixa o ator principal brilhar e coloca todos os holofotes no drama de seu protagonista, mas isso não preenche a sensação de vazio que existe no fraco desenvolvimento da trama. Carisma e qualidade de atuação de Oscar Isaac e da surpreendente May Calamawy agradam, mas não tornam a experiência memorável. É mais um produto do MCU que as possibilidades de inovação ficam evidentes, mas, assim como seu protagonista, é fácil de esquecer quase todo o percurso com um piscar de olhos.

--

--

Gustavo Rodrigues

Jornalista que se perde em devaneios sobre a vida e cultura pop